quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Fim de Ano


Andar de Manhã

Durante as duas últimas semanas tenho começado os meus dias cometendo um furto. Não sei como evitar esse pecado e, para dizer a verdade, não quero evitá-lo. A culpa é de uma amoreira que. desobedecendo às ordens do muro que a cerca, lançou seus galhos sobre a calçada. Não satisfeita, encheu-os de gordas amoras pretas, apetitosas, tentadoras, ao alcance da minha mão. Parece que os frutos são, por vocação, convites a furtos: basta mudar a ordem de uma única letra... Penso que o caso da amoreira comprova essa tese linguística: tudo tem a ver com o nome. Pois amora é palavra que, se repetida muitas vezes, amoramoramoramoramora, vira amor. Pois não é isso que é o amor? Um desejo de comer, um desejo de ser comido... O muro, tal como o mandamento, diz que é proibido. Mas o amor não se contém e, travestido de amora, salta por cima da proibição. Foi assim no paraíso... Os poucos transeuntes que passam por ali àquela hora da manhã talvez se espantem ao ver um homem de cabelos brancos colhendo amoras proibidas. Mas, se prestarem bem atenção, verão que quem está ali não é um homem com cerca de 70 anos, é um menino. E como foi o próprio filho de Deus que disse que é preciso voltar a ser menino para entrar no Reino dos Céus, colho e como as amoras com convicção redobrada. E para que não pairem dúvidas sobre a inspiração teologal do meu ato, enquanto mastigo e o caldo roxo me suja dedos e boca, vou repetindo as palavras sagradas: "Tomai e bebei, este é o meu sangue...". Ah! A divina amora, graciosa dádiva sacramental! Começo assim o meu dia, furtando o fruto mágico que opera o milagre por todos sonhados de voltar a ser criança.
Assim revigorado no corpo e na alma por esse maná divino caído dos céus, prossigo na minha caminhada matutina. Ando não mais que 50 passos e estou sob uma longa alameda de pinheiros. Neles, não há nenhuma fruta que eu possa roubar, pois nada produzem que possa ser comido. Pinheiros não são para a boca. São dádivas aos olhos. É cedo ainda. O sol acabado de nascer ilumina suas espículas verdes, que brilham como agulhas de cristal. Lembro-me de Le Corbusier, que dizia que “as alegrias essenciais são o sol, o espaço, o verde”. Mas os pinheiros sabem mais que o arquiteto, e às alegrias da luz acrescentam as alegrias do cheiro. Respiro fundo e sinto o perfume de resina.
Se me perguntarem no que penso, respondo com um verso Tao: “O barulho da água diz o que eu penso”. Penso as amoras, penso os pinheiros, penso a luz do sol, penso o cheiro da resina.
É tempo da floração das sibipirunas. Verdes e amarelas, elas cresceram dos dois lados da rua onde ando, transformando-a num longo túnel sombrio. Durante a noite, suas flores caíram, cobrindo a calçada e transformando-a num tapete dourado. Desço da calçada e ando no asfalto para não pisá-las. Lembro-me da voz misteriosa que falou a Moisés, de dentro da sarça que ardia: “Tira as sandálias dos teus pés, pois o chão onde pisas é santo”.
Para contemplar esse espetáculo é necessário levantar cedo, pois logo as donas de casa e suas vassouras tratarão de restaurar no cimento a sua fria limpeza. Isso me dói, e com a dor vem o pensamento. Pergunto-me sobre a educação perversa que fez com que as pessoas se tornassem cegas para a beleza generosa das árvores, tratando suas flores como se fossem sujeira. Mas as sibipirunas, indiferentes à cegueira dos homens e das vassouras, repetirão o milagre durante a noite. Amanhã as calçadas estarão de novo cobertas de ouro.
Caminho um pouco mais e chego ao Bosque dos Alemães. Espera-me ali um outro deleite, o deleite dos ouvidos: há uma infinidade de cantos de pássaros que se misturam ao barulho das folhas sopradas pelo vento. Não estou sozinho. Fazem-me companhia muitas outras pessoas, entregues ao exercício matutino do andar e do correr. Estão ali por medo de morrer antes da hora. É preciso exercitar o coração. Mas parece que é só isso que exercitam. Pois, por mais que me esforce, não consigo perceber em seus rostos sinais de que estejam exercitando também o deleite dos olhos, do nariz ou dos ouvidos. Correm e caminham com olhos fixos no chão, graves e concentradas, compelidas pelas necessidades médicas. E, por causa disso, por não saberem ver e ouvir, não se dão conta de um comovente caso de amor que ali se desenrola. Percebi o romance faz muito tempo, quando ouvi os gemidos que vinham do alto. Lá em cima, longe dos olhares indiscretos, um gigantesco eucalipto e uma árvore de rolha se abraçam. Seus galhos entrelaçados revelam o amor dos namorados. Acho que fazem amor, pois, quando o vento sopra fazendo suas cascas se esfregarem uma contra a outra, elas gemem de prazer... e dor.
Ando toda manhã. Por razões médicas, é bem verdade. Mas mesmo que não existissem, andaria da mesma forma, pelos pensamentos leves e alegres que a natureza me faz pensar. Boa psicanalista é a natureza, sem nada cobrar, pelos sonhos de amor que nos faz sonhar.

ALVES, Rubem. As melhores crônicas de Rubem Alves. São Paulo: Papirus.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012


A TECNOLOGIA DO ABRAÇO: por um matuto mineiro


O matuto falava tão calmamente, que parecia medir, analisar e meditar sobre cada palavra que dizia...
- É... das invenção dos homi, a que mais tem sintido é o abraço.
O abraço num tem jeito di um só aproveitá! Tudo quanto é gente, no abraço, participa uma beradinha...
Quandu ocê tá danado de sodade, o abraço de arguém ti alivia...
Quandu ocê tá cum mu
ita reiva, vem um, te abraça e ocê fica até sem graça di continuá cum reiva...
Si ocê tá feliz e abraça arguém, esse arguém pega um poquim da sua alegria...
Si arguém tá duente, quandu ocê abraça ele, ele começa a miorá, i ocê miora junto tamém...
Muita gente importante e letrado já tentô dá um jeito de sabê purquê qui é, qui o abraço tem tanta tequilonogia, mas ninguém inda discubriu... Mas, iêu sei!
Foi um ispirto bão de
Deus qui mi contô..... Iêu vô contá procêis u qui foi quel mi falô:
O abraço é bão pur causa do Coração...
Quandu ocê abraça arguém, fais massarge no coração!...
I o coração do ôtro é massargiado tamém! Mas num é só isso, não...
Aqui tá a chave do maió segredo de tudo:
É qui, quandu nois abraça arguém, nóis fica cum dois coração no peito!...
INTONCE...
UM ABRAÇU PRÔ CÊ!!!!
Já fiz cosquinha na minha irmã só para ela parar de chorar, já me queimei
brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto, já
conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxo. Já quis ser
astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista. Já me escondi atrás da
cortina e esqueci os pés para fora. Já passei trote por telefone. Já tomei
banho de chuva e acabei me viciando. Já roubei beijo. Já confundi
sentimentos. Peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido. Já
raspei o fundo da panela de arroz carreteiro, já me cortei fazendo a barba
apressado, já chorei ouvindo música no ônibus. Já tentei esquecer algumas
pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer. Já subi
escondido no telhado para tentar pegar estrelas, já subi em árvore para
roubar fruta, já cai da escada de bunda. Já fiz juras eternas, já escrevi no
muro da escola, já chorei sentado no chão do banheiro, já fugi de casa para
sempre, e voltei no outro instante. Já corri para não deixar alguém
chorando, já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só.
Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado, já me joguei na piscina sem
vontade de voltar, já bebi Whisky e até sentir dormentes os meus lábios, já
olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar. Já senti medo
do escuro, já tremi de nervoso, já quase morri de amor, mas renasci
novamente para ver o sorriso de alguém especial. Já acordei no meio da noite
e fiquei com medo de levantar. Já apostei em correr descalço na rua, já
gritei de felicidade, já roubei rosas num enorme jardim. Já me apaixonei e
achei que era para sempre, mas sempre era um "para sempre" pela metade. Já
deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol, já chorei por ver amigos
partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir
sem razão. Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da
emoção, guardados num baú, chamado coração. E agora um formulário me
interroga, me encosta na parede e grita: "Qual sua experiência?". Essa
pergunta ecoa no meu cérebro: experiência... experiência. Será que ser
"plantador de sorrisos" é uma boa experiência? Não! Talvez eles não saibam
ainda colher sonhos! Agora gostaria de indagar uma pequena coisa para quem
formulou esta pergunta: - "Experiência? Quem a tem, se a todo momento tudo
se renova?"

Autor Desconhecido

domingo, 23 de setembro de 2012

VIII Jornada Paulista de Gestalt - Transformações Contemporâneas - Instituto SEDES Sapientiae 2012



VIII Jornada Paulista de Gestalt 2012 - Transformações Contemporâneas
Instituto SEDES Sapientiae
Gestalt Terapia em peso!!!

Rosana Zanella, Myriam Bove Fernandes, Karina Okajima Fukumitsu, Myriam Hoffman, Maria Cecília Souto, Carmen Célia, Claudia Ranaldi Nogueira e Lilian Meyer Frazão.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

domingo, 26 de agosto de 2012

Workshop Gestalt Terapia com Lilian Meyer Frazão - 25/08/2012 no Instituto SEDES Sapientiae

Grupo de Gestalt Terapia SEDES e Lilian Meyer Frazão


Grupo de Gestalt Terapia SEDES e Lilian Meyer Frazão


Eu e Lilian Frazão

Eu, Lud, Lu e Fred

Meu momento Atual

Minha trajetória


terça-feira, 24 de julho de 2012

Helenas


HELENAS

O Universo Feminino é uma trama surpreendente que vale a pena conhecer mais a fundo. De todas as tramas que já vi na mídia, nenhuma me tocou mais do que as “Helenas” do autor Manoel Carlos. 
Se pararmos para analisar, percebemos que todas as “Helenas” possuem certa relação com nosso Universo Feminino da realidade. Quantas “Helenas” será que já cruzaram nosso caminho? 
“Helenas” sozinhas que vivem e lutam por elas; “Helenas” casadas, que dedicam-se inteiramente àquele por quem decidiu dividir uma vida; “Helenas” apaixonadas, que não abrem mão de sempre viver uma intensa paixão; “Helenas” mães, que muitas vezes abrem mão de sua própria felicidade por conta do bem estar de um filho; “Helenas” solteiras, que estão em busca de um amor; “Helenas” separadas ou divorciadas, que por mais que tentassem, foram submetidas à escolha difícil de romper um casamento; “Helenas” mães solteiras, aquelas que mesmo com uma boa condição financeira, possuem a árdua tarefa de criar seus filhos sozinha; “Helenas” abandonadas, que sofrem por terem perdido um grande amor.... Helenas, Helenas, Helenas...
Curioso é observar o quanto essas “Helenas” estão presentes na vida de muitas mulheres ou mesmo quantas dessas “Helenas” cada mulher leitora já vivenciou!!!
Nosso Universo Feminino é mesmo surpreendente, pois em muitos momentos somos designadas a atuar em diversos papéis ao mesmo tempo em uma única trama, trama esta chamada de VIDA.

Psicóloga Natália Aguilar
CRP 06/92570 Telefone: 2857-7292
e-mail: n.maparente@gmail.com
www.psiquelogias.blogspot.com

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Erros

"Amigo, não seja um perfeccionista. 
Perfeccionismo é uma maldição e uma prisão. 
Quanto mais você treme, mais erra o alvo. Você é perfeito, se se permitir ser.
Amigo, não tenha medo de erros. Erros não são pecados. 
Erros são formas de fazer algo de maneira diferente, talvez criativamente nova.
Amigo, não fique aborrecido por seus erros. Alegre-se por eles. 
Você teve coragem de dar algo de si"

Fritz Perls

domingo, 27 de maio de 2012

Workshop Terapia Relacional Sistêmica - Solange Rosset

Workshop Terapia Relacional Sistêmica com Solange Rosset
26/05/2012 - Instituto Relacional Sistêmico - Hotel Ibis Congonhas

Workshop Solange Rosset

Workshop Solange Rosset

Workshop Solange Rosset

domingo, 25 de março de 2012

Workshop Joseph Zinker e Sandra Cardoso Zinker

Workshop - Fenomenologia da Existência com Joseph Zinker e Sandra Cardoso Zinker
10/03/2012 - Instituto de Gestalt Terapia de São Paulo
Momento muito especial!!!
Sandra e Joseph Zinker

Sandra, Joseph e Eu

Joseph, Sandra e a Turma do Workshop, diferentes regionalidades!!!